O que é o literário?

Júlia Bastos Lima de Almeida
2 min readDec 14, 2020

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Nós da área de letras e linguística muitas vezes nos deparamos com essa pergunta durante nossa trajetória na graduação e sempre iremos pensar sobre essa e outras questões em nossos percursos profissionais. Penso que ao entrar na graduação somos convidados a desautomatizar o olhar e refletir mais profundamente e criticamente sobre as questões que envolvem o literário, entre tantas outras questões com as quais nos deparamos.

Em um primeiro momento essa questão poderia parecer algo simples de se responder, mas sabemos que não é bem assim. A literatura é muito diversa e ampla, no entanto não significa que qualquer coisa é literatura. Quando pensamos no literário ou na literatura, pensamos em um tipo de trabalho com a linguagem diferenciado dos demais, pensamos em uma área ou campo que trabalha a linguagem para constituir um mundo próprio, mas devemos também pensar na língua como própria constituinte desses modos de dizer, uma vez que a língua não é uma instância à parte do que enunciamos ou textualizamos, a língua modula as formas que dizemos o que é dito.

Segundo Maingueneau, o literário pode ser visto como um discurso, o discurso literário, que formula-se como um discurso constituinte, ou seja, um discurso que se caracteriza como originário, algo que não teria um marco de início e que se bastaria por si só. A partir disso, penso que podemos dizer que o literário é um campo discursivo que é constituído por meio das diferentes formas de materializações textuais e das validações dos agentes e instituições ligados ao campo literário, como por exemplo, críticos literários, leitores, pesquisadores e universidades.

O literário enseja a formulação de determinadas textualizações e modos de dizer que são vinculados ao o que se pretende construir como imagem daquilo que está sendo textualizado. Isso significa dizer que a língua e a maneira como dizemos o que escolhemos dizer constitui as formas como algo será recebido pelo público e quais serão os sentidos e significados despertados a partir disso. É nesse sentido, de pensar as formas de recepção que uma textualização pode despertar, que pretendo pensar sobre meu projeto de reedição da revista literária.

Até a próxima publicação!

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Júlia Bastos Lima de Almeida

Espaço para escrita semanal sobre as reflexões feitas a partir dos textos lidos na disciplina Discurso Literário: Criação, Edição e Consumo — ENPE 2020