Uma reflexão sobre Curadoria Textual

Júlia Bastos Lima de Almeida
4 min readNov 22, 2020

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Tarefas da edição: pequena mediapédia

Como tarefa dessa semana da disciplina optativa Discurso Literário: Criação, Edição e Consumo ministrada pela Prof.ª Dr.ª Luciana Salazar Salgado — ENPE 2020 da UFSCar, tivemos a proposta de refletir sobre um dos verbetes presentes no livro “Tarefas da edição: pequena mediapédia” organizado por Ana Elisa Ribeiro e Cleber Araújo Cabral.

Ao olhar o livro me chamou atenção o verbete “Curadoria textual”, pois estou desenvolvendo meu trabalho de conclusão de curso sobre a revista literária enviada para os assinantes da modalidade de assinatura TAG- Curadoria do clube de assinatura de livros TAG- Experiências Literárias e me interessa refletir sobre a curadoria no contexto do campo literário.

O verbete, desenvolvido por Luis Alberto Brandão, trás a seguinte definição sobre curadoria:

“O termo curadoria designa a atividade do curador (do latim cūrātor, cūrātōris), aquele que desempenha a ação de curar, no sentido genérico de cuidar, exercer cuidados, o qual veio a se desdobrar em sentidos específicos, sobretudo na linguagem médica e na jurídica. O elemento de composição cur- — que ocorre em vocábulos como acurado, curioso, procura e seguro (de secūrus) — vem do substantivo latino cūra, cūrae, cujo significado próprio é “cuidado”. A figura do curador é bastante presente no campo das artes plásticas e originalmente identificava o responsável por montar, preservar, catalogar e exibir coleções. No decorrer do século XX, ao curador vão se associando novas funções. As mudanças estão relacionadas com a grande ênfase que se passa a atribuir às condições do espaço expositivo[1]. Não mais percebidas como objetos autônomos, autossuficientes, as obras de arte tornam-se indissociáveis do modo como entram em contato com o público. Idealizar e concretizar tal modo é a nova tarefa do curador, a qual, portanto, passa a ser considerada não apenas executora e administrativa, mas também conceitual e criadora. O termo “curadoria” vem se difundindo em outras artes e outros campos, designando os afazeres referentes à concepção e à coordenação geral de diversos tipos de eventos.” (p. 55)

É interessante pensar sobre como um termo bastante presente no campo das artes plásticas passa a ser utilizado em outros contextos e vai adquirindo novas funções. Dentro do meu objeto de estudo, o termo curador é usado para designar as pessoas (geralmente autores e críticos literários) escolhidos pela TAG para indicar seus livros favoritos para serem enviados aos assinantes do clube e que são denominados pela TAG como “grandes nomes da literatura nacional e internacional”.

A figura do curador aparece sendo utilizada nesse contexto como essa pessoa que vai legitimar e produzir valor para os livros enviados pelo clube, trazendo a significação de algo especial, único e exclusivo para as obras do catálogo do clube TAG-Curadoria. Penso que a figura do curador na TAG está associada ao primeiro aspecto de curadoria trazido por Brandão, pois os curadores de fato são convidados a não apenas indicar a obra ao clube, como também são entrevistados sobre o porquê indicaram tal obra e quais são as impressões que tiveram ao ler o livro indicado.

“O primeiro aspecto associa a curadoria à ação de tornar visível. Pensa-se o curador como o responsável por estabelecer as condições de visibilidade, de apresentação de uma obra, de uma imagem ou de uma informação. Já que uma imagem (ou uma obra, ou uma informação) não tem o poder de se apresentar por si mesma, é importante não dissociá-la das formas e dos veículos mediante os quais se tem acesso a ela. Na base desse trabalho de mediação está a figura do curador.” (p. 56)

O curador aparece na TAG-Curadoria com a função de mediação, com o papel de fazer a apresentação da obra aos leitores do clube. Destaco, do trecho acima, a passagem “Já que uma imagem (ou uma obra, ou uma informação) não tem o poder de se apresentar por si mesma.” (p.56), o curador é aquele que traz visibilidade para o livro enviado e participa do processo de construção sobre o modo como a obra será concebida pelos leitores do clube.

Para além da função de mediação, penso que podemos dizer que o curador na TAG tem a função de instruir os leitores do clube sobre a obra enviada, de certo modo cerceando e guiando a interpretação acerca da obra através do que é dito na revista literária sobre obra e autor, enviada aos assinantes junto do livro indicado no mês.

“A obra como evento pressupõe vários agentes, sendo que o público receptor é um dos principais, já que se entende a obra como a experiência da obra. O curador — ou uma equipe de curadores, trabalhando conjugadamente — é o agente que reúne esses diversos agentes, que define a rede que os interliga.” (p.57)

Para concluir essa primeira postagem trouxe mais esse trecho do verbete, já que acredito que dialogue bastante com a ideia da TAG em conceber a leitura literária como experiência, para isso tendo o curador como aquele que vai propiciar a apreciação e experiência de leitura através da indicação dos livros, interligando a obra e os assinantes do clube.

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Júlia Bastos Lima de Almeida

Espaço para escrita semanal sobre as reflexões feitas a partir dos textos lidos na disciplina Discurso Literário: Criação, Edição e Consumo — ENPE 2020